Os
municípios brasileiros vão receber um total de R$ 860,7 mil via Fundo
de Participação dos Municípios (FPM), nesta quarta-feira (20). O valor é
23% — sem considerar a inflação — maior do que as prefeituras
embolsaram no segundo decêndio de outubro do ano passado. O cálculo já
leva em conta o desconto dos 20% destinados ao Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação (Fundeb).
O município mineiro de Aricanduva, por exemplo, vai receber cerca de
R$ 74 mil. O prefeito da cidade, Valdeir Santos Coimbra, diz que o FPM
representa mais de 80% da arrecadação anual da cidade e que o acréscimo
de recursos é importante.
“A gente está em um município pobre, em que o nosso IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano) chega a 0.6, então esse aumento do FPM vai vir
numa hora boa. O período de pandemia está passando agora. A gente sabe
que começa a voltar às aulas, então a gente tem um gasto muito maior na
prefeitura do que no próprio ano passado”, afirma.
O gestor garante que parte do montante vai para uma espécie de
reserva financeira, voltada para investimentos em infraestrutura em
2022, por exemplo. “A gente está fazendo caixa para, no ano que vem,
investir em um projeto maior para a cidade. Então, estamos projetando a
[construção de um] anel rodoviário para o desenvolvimento da região, da
agricultura, pecuária, porque infelizmente a gente perde muito, pois a
cidade é antiga e mal projetada e caminhões não conseguem passar dentro
do nosso município”, explica.
Oportunidade
Além de permitir a ampliação de gastos em infraestrutura, educação e
saúde, por exemplo, o repasse do FPM dá aos gestores a chance de se
anteciparem e quitarem dívidas que, no futuro, podem gerar o bloqueio de
novas entradas. “Os recursos do fundo permitem aos municípios colocarem
suas contas em dia. Sabemos que muitos deles possuem dívidas com a
União, que podem gerar bloqueios futuros”, diz Catharina Sacerdote,
especialista em administração e investimentos.
Cesar Lima, especialista em Orçamento Público, concorda que uma boa
forma de usar o dinheiro extra é pagando débitos que tenham a garantia
do Governo Federal. “A gente alerta aos municípios que evitem ficar em
débito com a União, não honrando, por exemplo, empréstimos cuja
garantidora seja a União, ou mesmo benefícios previdenciários, que podem
ser fatores de bloqueio dos valores do FPM. Isso garante que esses
recursos continuem fluindo de maneira constante”, orienta.
De acordo com a Secretaria do Tesouro Nacional, 50 municípios
não devem receber o repasse do FPM nesta quarta por conta de alguma
pendência. Entre os principais motivos para bloqueio estão: ausência de
pagamento da contribuição ao Programa de Formação do Patrimônio do
Servidor Público (Pasep); dívidas com o Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS); débitos com a inscrição da dívida ativa pela
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN); e falta de prestação de
contas no Sistema de Informações sobre Orçamento Público em Saúde
(Siops).
Para desbloqueio do repasse, o município deve identificar o órgão que
determinou o congelamento. Em seguida, deve conhecer o motivo e
regularizar a situação. Confira a lista dos municípios com repasses
bloqueados.
ÁGUA LIMPA (GO)
AJURICABA (RS)
ALTAMIRA (PA)
ALVORADA (RS)
BAGÉ (RS)
BREJO (MA)
CAMALAÚ (PB)
CAPOEIRAS (PE)
CARIDADE (CE)
CARMÓPOLIS (SE)
CARRAPATEIRA (PB)
CORONEL PILAR (RS)
CRUZ ALTA (RS)
CRUZ DO ESPÍRITO SANTO (PB)
ELDORADO DO SUL (RS)
FORMOSO DO ARAGUAIA (TO)
IACIARA (GO)
IBIAPINA (CE)
ILHA GRANDE (PI)
INGÁ (PB)
ITABI (SE)
ITAUEIRA (PI)
JARDIM (CE)
LAGOA BONITA DO SUL (RS)
MAMBAÍ (GO)
MARTINS SOARES (MG)
MARUIM (SE)
MONTIVIDIU (GO)
MORRINHOS (GO)
NHAMUNDÁ (AM)
NOSSA SENHORA DO SOCORRO (SE)
PAIAL (SC)
PASSOS (MG)
PETRÓPOLIS (RJ)
PINHEIRINHO DO VALE (RS)
RIBEIRÃO DAS NEVES (MG)
RIO RUFINO (SC)
SALGADO (SE)
SALGADO DE SÃO FÉLIX (PB)
SÃO GONÇALO DO GURGUÉIA (PI)
SÃO JOÃO DE MERITI (RJ)
SÃO LOURENÇO DO SUL (RS)
SÃO MIGUEL DO IGUAÇU (PR)
SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO (MG)
SÁTIRO DIAS (BA)
SENA MADUREIRA (AC)
SETE LAGOAS (MG)
SIMÕES (PI)
TRES BARRAS (SC)
UIRAÚNA (PB)
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Aricanduva recebe 23% a mais em recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) nesta quarta-feira (20)
Crescimento
Até a última transferência, em 8 de outubro, o FPM já havia repassado
R$ 106 bilhões aos municípios. Na comparação com 2020, representa um
acréscimo de quase 37%, de acordo com a Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
Catharina explica que o crescimento se deve à volta da atividade
econômica. “O repasse é maior porque a União teve uma maior arrecadação
nesse período, muito influenciada pelo aumento da demanda de serviços
que ocorreu de 2020 para 2021, por causa da retomada de alguns setores
de produção e serviços”, acredita.
O que é o FPM
O FPM é um fundo pelo qual a União repassa, a cada dez dias (por isso
o nome “decêndio”), 22,5% do que arrecada com o Imposto de Renda (IR) e
com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) aos municípios. A
cada mês, portanto, são três repasses, que ocorrem nos dias 10, 20 e 30 e
se referem, respectivamente, ao arrecadado nos dez dias anteriores.
Se a data cair no sábado, domingo ou feriado, o repasse é antecipado
para o primeiro dia útil anterior. O aporte que as prefeituras vão
receber nesta quarta-feira tem origem no recolhimento desses tributos
entre os dias 1º e 10 de outubro. O dinheiro é creditado pelo Banco do
Brasil, que disponibiliza em sua página na internet os avisos sobre as
distribuições decendiais das cotas dos Fundos de Participação, com os
lançamentos a crédito e débito. Além dos 20% que a União retém para o
Fundeb, os gestores devem aplicar 15% dos recursos em saúde e destinar
1% para o Pasep.
Os percentuais de participação de cada município são calculados
anualmente pelo Tribunal de Contas da União (TCU), de acordo com o
número de habitantes de cada cidade e a renda per capita dos estados. Os
municípios são divididos em três categorias: capitais, interior e
reserva. As capitais dos estados e Brasília recebem 10% do FPM. Os
demais municípios brasileiros são considerados de interior, e
representam 86,4% do FPM. Já os municípios de reserva são aqueles com
população superior a 142.633 habitantes e recebem – além da participação
como município de interior – uma cota adicional de 3,6% do fundo.